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SEM NEURAS

segunda-feira, 24 de março de 2008




Achei essa foto sensacional. Alguém que não parece se render à ditadura de cirurgias, químicas, massagens, regimes, etc, etc, na ritualística transmutação dos seres humanos e, principalmente, dos endeusados artistas. Pode até ter feito algum artifício. Mas, sua velhice parece simples e pacífica.
O maiô discreto, a toalha super simples. Em posições e gestos sem nenhum tipo de incômodo.
Uma pessoa humanamente comum, curtindo algo ainda comum: água. Achei sua velhice muito digna. Não é uma beleza construída com bisturis e aditivos, antioxidantes, alcalinos, emolientes e gases nobres, mas transmite coragem de enfrentar o grande desafio que é envelhecer.
Com relação aos artistas, pode-se dizer que há inúmeros ditames, opiniões, julgamentos e cobranças que podem existir em relação a eles. Os tiranos imperativos da estética, que desumaniza a própria concepção estética, e torna as pessoas ainda mais sombras e aparentes do que já são obrigadas a ser.
Esta senhora mantém sua calma. E se adentra no mar da vida. É uma mulher comum, acima de tudo, ainda vive, deve ter seu livro negro como qualquer ser humano. Ela se dá ao direito de ser sobriamente ela mesmo.
Ela parece aceitar humildemente e sem neuras seu corpo natural.
Com relação aos artistas, digo que os X-Men mutantes estão entre nós: são faces e corpos que assumem vozes e posturas que também não são propriamente deles.
Tanta gente de rosto artificial. Rindo na tela, mas sem nenhum sinal de simpatia. Puxa! Me revolta ter que pagar a conta de energia por conta de alguns.
Tanta gente sem talento! Tanta gente sem dom, tão normal, tão glamour brasilis. Mas, em nada refletindo a múltipla alma do brasileiro.
Novelas que não dizem nada a respeito de nossa odisséia sofridíssima e complicadíssima enquanto brasileiros. Vivemos tantas ironias, tantas desgraças simultâneas. O massacre é vertiginoso e flui em todas as direções.
Quando se ouve um artista no disco, há tanta mutação na voz, tantos efeitos. E olha que o resultado nem sempre é bom!
A pessoa se torna um desconhecido físico dela mesmo, um corpo estranho, em que nada é ela. Esse corpo, esse cabelo, essa pele são produtos pelo quais eu paguei e paguei muito bem pago.
Não bastassem estes ARTIFÍCIOS, o visual ainda é complementado com muita maquiagem e depois, em divulgações midiáticas, com os retoques de 3-d Max, Photoshop, Corel Draw, etc.

SEM NEURAS..................

Palavrinha de Charlotte

Pude para rever uns pedacinhos do desenho "A menina e o Porquinho" (1972; Hanna Barbera e Sagittarius; produção baseada no livro Charlotte's Web, de E.B. White), que, basicamente, narra a amizade fiel vivida intensamente entre Charlotte, uma aranha inteligente e "escritora", e Wilbur, um porquinho cujo destino seria o básico: crescer, engordar e servir de alimento.
Achei graça em Wilbur, primeiramente, pela sua inadequação "social". Ele foi considerado anão pelo seu proprietário, sr John Arable, por isso, segundo ele, deveria ser sacrificado, pois não conseguiria sobreviver; sua morte seria apenas uma aceleração do processo. Ele, contudo, achou graça aos olhos de sua filha, Fern, que implorou pela sua vida, dizendo que seria uma injustiça e argumentando com o seu pai: "Se eu tivesse nascido anã, você também teria me sacrificado?". Seu pai comovido concordou e o deu de presente a Fern.
(Só aqui já dá tanto o que falar e pensar. Mas, só quero falar de umas palavrinhas de Charlotte.)
Fern criou o porco com toda delicadeza e atenção, como uma mãe bondosa que cria seu recém-nascido.
Ao crescer muito, contrariando as expectativas, John Arable decide vendê-lo para o fazendeiro Homer Zuckerman. Sua despedida de Fern foi emocionada. Mas, ela o visitaria na fazenda.
Em seu novo endereço, Wilbur encontra uma galerinha de animais simpáticos e engraçados, a típica fauna de uma fazenda.
Aprende a falar e enfrentar a dura realidade do destino: a luta pela sobrevivência, muitas vezes em condições inesperadas e que entristecem. Contudo, encontra alegria nos amigos que vai cultivando na fazenda. Cada um com uma história para contar e um destino para cumprir. E novamente o poder de escolher é muito limitado, reduzido a poucas alternativas. Só através das amizades é que essas limitações encontram algum consolo.
O grande amigo que encontrou foi Charlotte, uma aranha chique, inteligente, criativa e que possui o dom de escrever em suas teias. Ela faz de tudo para usar seu dom e inteligência para salvar o Wilbur de um destino doloroso para ele. De uma forma ou de outra, ele sempre está sendo sentenciado à morte. A idéia de Charlotte foi fazer com que as pessoas acreditem que ele era um pouco diferente, especial e era isto que ela escrevia nas suas teias. Ela argumentava que as pessoas dão muito crédito ao que lêem. O que me chamou atenção foi que quase ninguém conseguia ver que quem era muito especial mesmo era Charlotte e seu dom. Tá: coisa de ficção!!! Acho, apesar do aspecto ficcional, que é uma verdade que permanece: a imagem de muitas pessoas é feita pelo trabalho, inteligência e ação de outros.
Charlotte conseguiu seu intento. E Wilbur escapou do seu "infalível" destino: "Ele vai morrer até ficar bem velhinho"
Uma palavrinha de Charlotte me tocou muito. Em seu último diálogo, ela fala sobre a vida das aranhas. Wilbur lhe pergunta por que ela fez tudo aquilo por ele; Charlotte responde que ele tem sido seu amigo e isso já era uma coisa tremenda
"Afinal, o que é a vida mesmo? Nós nascemos, vivemos um pouco e morremos. A vida de uma aranha não deixa de ser uma coisa meio confusa com todas essas teias e comendo insetos; te ajudando, talvez eu estivesse tentando melhorar um pouco a minha vida."
E fiquei pensando em como a gente pode lembrar um pouco dos outros em nossos poucos momentos de vida, tentando ajudá-los a se sentir melhor, ter um rostinho mais alegre diante das tremendas dificuldades e destinos até cruéis que a vida parece impor. Esquecer um pouco a confusão das nossas próprias teias (nosso viver). Uma teia é matematicamente repetitiva. Sua forma chega a parecer, em certos trechos, um labirinto monótono. Vale o esforço para ter amigos, pessoas que gostam de nós pelo que fizemos, pelo tanto que nos damos, ou pelo fato de ser amigo sem nada pedir, sem nada questionar, com respeito, com carinho. Ainda acredito nisto. Sem fazer dos outros uma extensão nosso eu, do nosso orgulho, do egoísmo, de interesses que eles nem fazem idéia, sem hipocrisia. Amizade é realmente algo muito especial.
Nisto me vem à mente a palavra de Jesus Cristo: "Não existe amor maior do que este: de dar a vida pelos seus amigos". Foi a própria Verdade, o próprio Caminho, falando acerca da amizade. Foi Jesus quem disse e isso é maravilhoso. Jesus nos considerou amigos. Mas estabeleceu uma condição: "Vós sereis meus amigos se guardardes os meus mandamentos".
Ocorre que o sentido de obedecer foi paulatinamente "prostituído" pela mídia. Obediência é sempre ouvido de modo pesado, doloroso. Não foi para isto que os mandamentos de Deus foram criados, mas para que todos tivessem vida em abundância. E essa vida não é dinheiro, não é glória terrena, casarão, títulos, petróleo. É ser amigo de Jesus, é ter sua compreensão. Isto já é outro assunto.

 

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