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Monopólio de medalhas

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Um monopólio que me assusta muito é o de medalhas em Jogos Olímpicos. Assusta mas não me causa estranheza. Assusta porque é comum torcer pela nação de origem, isto é, quem nasce, reside, ou ainda se identifica com um país normalmente adquire um sentimento de amor e respeito a essa pátria, cidade, estado, etc. Conhecendo-se a natureza humana, obviamente o contrário pode ocorrer: criar nojo e ódio por eles. No entanto, é mais comum desejar o melhor para eles, que eles sejam vencedores.
É comum se ouvir que ser vencedor não significa apenas ganhar medalhas que definam e apontem quem é o melhor em alguma área ou esporte, porque todos os que estão nos jogos olímpicos são vencedores de alguma forma: viveram para aquilo, sonharam, lutaram para chegar ali naquele momento. Eles representam o melhor que cada país pode chegar a oferecer. E quando esse momento chega? O que eles podem render, o que se pode esperar deles?
Quando vejo os atletas brasileiros chorando e lamentando a dor de desempenhos até abaixo do seu próprio rendimento ou por saberem que deram o melhor, de si mesmos, mesmo assim ficaram nas últimas colocações, confesso que fico triste. Porque é a continuação do que vivemos no dia a dia do Brasil. São tantas perdas, mesmo nos cursos que nos deveriam nos dar segurança para o exercício das diversas atividades sociais o é possível sentir a fragilidade e o quanto estamos longe do ideal. Isto é, sempre há muitas limitações, as falhas são conhecidas, antes e depois nos perguntamos: o que posso esperar de mim mesmo, para que fui preparado, qual o nível desse preparo? Darei saltos e farei movimentos acrobáticos avançados sem cair? Qual será minha regularidade?
Os atletas não têm culpa totalmente do próprio desempenho. Mas, as imagens que ficam são de quedas, falhas, lágrimas e lamentações. Se olhássemos para as misérias deste país todo instante, ao ver um mendigo, os crimes hediondos, juízes, políticos membros ativos ou coniventes com toda sorte de crime e corrupção (tantas vezes sendo idolatrados pelas massas), expostos como maiores até do que a própria justiça, deveríamos chorar profundamente.
Obviamente tem melhores resultados o país que aproveita eficientemente seu potencial e contingente humano, através de um planejamento específico para formação de atletas e investimento adequado. Se não existir uma base sólida neste aspecto, não se pode ter uma expectativa que não corresponda à estrutura e ao investimento. Mesmo com uma frágil consciência desta realidade, a vontade de ver alguém representando sua nação não diminui, e isto não diminui o desapontamento de ver uma população tão grande com uma participação tão mesquinha no quadro de medalhas de um evento tão significativo. É outra representação da nossa realidade: do que adianta tantos resultados positivos na balança comercial, se a distribuição é desigual e deixa MILHÕES à margem? Ouvir números formidáveis divulgados pelo governo, ver nos noticiários homens brasileiros entre os mais ricos do mundo, tanto alarde em cima de políticos que exibem o que deveria sempre se esperar deles: estão fazendo o que deve ser feito, afinal, ganham para aquilo, ninguém os convidou, eles se propuseram publicamente a desempenhar tais funções e dirigir o país. Do que adianta se os indigentes, os miseráveis, os doentes, os sem-ruas, sem-destinos, sem-paz-e-esperança, o sistema de saúde, a política de segurança pública atestam a ineficiência dos gestores políticos deste país?
Imagine se houvesse uma revolução na área esportiva com formação de bons técnicos, sem dunganismo, isto é, colocar como técnico uma pessoa sem formação e sem experiência para dirigir grupos (times) que precisariam ter à frente uma pessoa preparada e com comprovada experiência. Que as crianças brasileiras, ao invés de serem jogadas à miséria, ao desprezo e crueldade das autoridades e agora das próprias famílias deixassem de ser objetos, de ser número para cientistas e estatísticas e vítimas de aproveitadores, pedófilos, aliciadores, traficantes, mão-de-obra escrava, entre outros monstros, fossem bem-cuidadas e amparadas pela sociedade, tivessem suas potencialidades físicas e mentais desenvolvidas., com auxílio de profissionais com qualificação a altura da tarefa. Quando vejo a seleção brasileira de futebol feminino (sem julgar pela cor e pelo porte físico), lembro-me (pelas informações divulgadas) de sua origem muito pobre e o quanto sofreram para chegar onde estão e melhorarem sua condição de vida enfrentando toda marginalização que existe neste país, por serem mulheres, negras, pessoas pobres, jogadoras de futebol, sujeitas ao estereótipo da homossexualidade, entre outras misérias da mentalidade brasileira.
Fico "chateado" por só ver os atletas chorando por perderem. Só quem chegou lá deve saber as dificuldades encontradas para pelo menos conseguir chegar à elite do esporte nacional. Uma vez nesta elite aí podem começar a obter apoios significativos; se ficar famoso, alguma multinacional empresta seu nome ao atleta, etc. Mas, se ele começar do zero, que é o essencial, não encontrará técnicos preparados, conscientes, realistas, não encontrará uma participação sólida do governo.Na minha época de estudante do ensino médio, todo mundo odiava educação física. Os professores desta disciplina colocavam algumas vezes os alunos para competirem em futebol e voleibol, com quase nenhum treino. E a gente ia olhar estas competições mais para rir do que ver a eficiência dos jogadores. Não era maldade, era porque se a gente quisesse esperar shows de esporte, teria uma total decepção. Mas, como circo matava bem o tempo.
Um presidente do Brasil vai fazer o que em Jogos Olímpicos? Quer convencer as pessoas de que? Que alguma metrópole daqui tem segurança? Tem estrutura? Que existe um apoio imenso e eficiente ao esporte? Onde estão as ONGs na área esportiva?
Esse texto é apenas uma primeira tentativa de tentar compreender como este momento de jogos olímpicos tá na minha cabeça, depois eu retoco.
 

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