O caixão estava longe de mim. O morto estava longe e seria possível ver tudo o que havia dentro dele. Já havia iniciado sua decomposição. Seu cheiro forte já poderia ser sentido.
Mas, eu me aproximei, eu me lembrei do defunto. Eu me dirigi até o caixão e sei o que havia dentro.
Ao remexer no caixão, o morto já cheirava mal. Que poder tenho eu para ressuscitar um morto? E por que teria eu que ressuscitá-lo?
Mas, eu abri o caixão. E comecei a falar com o morto.Ao remexer no caixão, o morto já cheirava mal. Que poder tenho eu para ressuscitar um morto? E por que teria eu que ressuscitá-lo?
O morto falou-me as mesmas coisas de sempre, as mesmas mentiras, a mesma conversa que nunca tinha sentido. A mesma falta de sonhos, a mesma falta de sinceridade. Estava ainda mais morto, eternamente morto naquele mesmo abismo que projetou em sua volta e dentro de si mesmo.
Por que teria eu que sentir falta de mentiras tão conhecidas?Por que não deixei o passado ali enterrado?
Aquela página foi virada, completamente compreendida.
Eu queria trazer flores pra ver se o mau cheiro poderia sair. Eu ainda quis conversar, sabendo que não haveria retorno, não seria um diálogo, mas um monólogo. Talvez por acreditar no impossível. Sei... tudo tem seu tempo. O tempo daquele instante, o tempo da tentativa, o tempo da colheita, da proximidade, do afastamento.
E agora tenho o meu caminho para andar e voltar a andar com as minhas pernas, ainda que cansadas.
Estou vivo! Como a mãe que suportou um longo inverno aquecendo seus filhos, sem um cobertor pra si mesma. Como um soldado que foi esquecido pela sua tropa, mas conseguiu chegar ao seu comandante e rever sua família.
Vivo! Cansado, quebrado, exausto! Meio com vontade de ficar parado, em silêncio, Esperando pacientemente pelo retorno das minhas forças. Mas vivo.
Estou vivo.
Estou vivo! Como a mãe que suportou um longo inverno aquecendo seus filhos, sem um cobertor pra si mesma. Como um soldado que foi esquecido pela sua tropa, mas conseguiu chegar ao seu comandante e rever sua família.
Vivo! Cansado, quebrado, exausto! Meio com vontade de ficar parado, em silêncio, Esperando pacientemente pelo retorno das minhas forças. Mas vivo.
Estou vivo.
(Jackson Angelo)