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A epidemia do bullying

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A violência de modo geral ganhou dimensões astronômicas no Brasil e no mundo. Em minha pacata cidade, Cabedelo, que possui cerca de 58 mil habitantes, pessoalmente eu nunca tinha ouvido sequer um tiro de revólver.
Atualmente, eu e toda minha cidade ouve não só os tiros frívolos de revólveres, como assiste a morte quase diária de jovens escravizados pelo mundo do crack, com leis próprias as mais absurdas, em que até por dez centavos se mata uma pessoa.
Antes, aqui a gente dizia "morreu alguém disto ou daquilo". Mas agora, a gente pensa: qual o dia que não vai morrer uma pessoa aqui por conta deste maldito universo do crack?
Se a justiça, as autoridades fazem algo, só a consciência deles pode responder. Mas nem sei o que dizer. Não saio muito assim de casa, mas as constante notícias de crime, as cenas de jovens se destruindo e sendo destruídos, por si só creio que dão uma resposta que merece crédito.
As escolas também não escapam dessa multiforme escalada da violência. O fenômeno do bullying, isto é, a violência repetitiva e intencional de alunos contra um ou mais alunos parece ser um dos cardápios dos "valentões do pedaço".
O bullying na Paraíba tem níveis muito altos. Nem sei se é possível falar em vergonha. Pra mim e pra muita gente ainda o termo vergonha faz sentido, não sei se para os governos e seus auxiliares possui. Por exemplo, João Pessoa já é considerada a capital do nordeste em termos de bullying. Segundo dados do IBGE, cerca de 32,2% dos alunos paraibanos afirmam já ter sofrido atos de bullying. Que título, hein! Pelo menos, é também a primeira capital do país a ter uma legislação específica contra bullying.
Já escutei muitas histórias aqui sobre essas práticas de bullying. Espero que a repetição da mesma coisa não faça com que essa prática, a convivência e conivência com ela se banalizem. Tenho um sobrinho que já foi vítima de violência em uma conceituada escola de João Pessoa (nossa Jampa) e a diretoria de lá não tomou uma providência que mostrasse a devida dignidade no trato com o aluno, com a comunidade escolar e com os pais dos alunos. Imagine assistir aula com o olho estufado, roxo por conta de um murro e ver, saber que seu agressor nada sofreu?! Mas, graças a Deus, hoje, meu sobrinho passa muito bem, não ficaram sequelas e saiu dessa "escola".
O bullying está em alta. Não só em termos de debate, mas em termos de prática também. Por vários motivos: cor, raça, religião, jeito de ser, diferenças individuais, sexualidade, entre outros fatores. Basta que você não se encaixe nos parãmetros dos grupinhos e suas ideias e valores dominantes. Por conta dessa escalada, não é à toa que já é considerado um caso de saúde pública no Brasil.
Não é só no Brasil. Não foi à toa que o poderoso presidente dos Estados, Barack Obama, veiculou um vídeo para a campanha "It gets better" (ficará melhor) em que expressa sua indignação contra o bullying praticado contra alunos gays, dentre os quais muitos cometem suicídio por conta do bullying.
Acha que no Brasil é diferente? A despeito de toda visão que se tenha, estes alunos são cidadãos, independente de sua opção sexual ou não, cor ou não, classe social ou não, todos são seres humanos e devem ser respeitados a todo o custo.
Relembrando minhas primeiras séries do ensino fundamental, recordo que o bullying já existia. Não posso dizer, contudo, pela minha experiência, se já tinha os contornos de maldade que hoje têm. Os valentões e covardes sempre existiram. Temos que olhar pra nossa própria vida escolar e tentar refletir sobre como convivíamos com as diferenças na escola. Como éramos tratados pelos colegas e concluir se isto já existia ou não, só que ainda não tinha essa denominação e não ocupava tanto espaço nos noticiários.
Posso dizer que os gordos eram humilhados, apelidados, rotulados por serem gordos. Que alguns eram taxados negativamente pela cor, se não por alguém em particular, mas havia a prática. Até o fato de alguém ser muito branco já era motivo pra uma rotulação. Não posso dizer que a percentagem era grande, mas nas minhas memórias sei que isso acontecia. Pode-se questionar se era sistemático isso, repetitivo. Sim, repetitivo. Talvez não só por uma pessoa. Muitas vezes, há vários agressores, muitas vezes a impunidade impera e humilhar se torna uma forma de ser superior e de estar dentro do que é visto como padrão.
O fato é que algo muito urgente, objetivo, sincero, realista precisa ser feito. Que esse algo chegue até nossas vidas diárias sem precisar alguém ir pra televisão ou divulgar HEROICAMENTE em jornais que existem projetos e leis disso ou daquilo. Que a própria vida, os fatos nos mostrem, que a nossa sensibilidade capte tudo isso. Da mesma forma que facilmente notemos esse mal, facilmente também notemos e vivamos e sejamos abençoados pelo bem que desejamos e precisamos para nossa sociedade.
(Jackson Angelo)
 

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