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Nós, os prisioneiros

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Uma homenagem simples a alguns amigos meus.

Nós, os prisioneiros

Nós, os que temos a perna marcada por profundas e muitas cicatrizes
E perdemos ainda a outra perna, ficamos mancos
Paralíticos, mas nunca paralisados
Desafiamos corridas impossíveis
Conseguimos entender o que nossa corja quer e precisa dizer
Nós, os que nascemos e vivemos em sórdidas prisões
Cujas mãos feridas e calejadas ficam, por tentar tantas vezes fugir
Sabemos bem o que nossos ais nos fazem dizer
O quanto nosso silêncio ferrenho nos angustia
Conhecemos a aflição tortuosa de cada lágrima
O tamanho, o cheiro, o resplendor
Nós, que não chegamos ao final da corrida
Que nunca estamos entre os escalados
Que carregamos pesados fardos
Que ainda não sabemos bem por onde ir
Nem por onde passamos! Nem muito menos sabemos voltar atrás
Nós, os perdidos conquistamos e inventamos novos caminhos
Entramos por onde ninguém quer mais entrar
Nós, frustrados, os amedrontados
Enfrentamos os males mais terríveis
E sobrevivemos, e damos a volta por cima
Nós, os incompletos, os perseguidos, os imorais
Nós os feiticeiros, os que nunca sabem porque fazem mal
Estamos sempre com o olhar atento para a luz
E conseguimos ver mesmo na mais impiedosa escuridão
Nós, os ilhados sociais conseguimos atravessar os mais sombrios mares
Surfamos sobre as tsunamis de todo ódio, de toda rejeição
Aprendemos a suportar o ódio, a difamação, a estupidez
Transformamos a vergonha em arte
O desprezo em uma parte do caminho de vitórias
Como sentimos frio por noites e noites
Gostamos de aquecer os esquecidos
Como choramos por incontávei horas, dias, anos
Valorizamos cada lágrima de um inocente
A noite demorava a passar e os monstros da noite eram terríveis
Acreditávamos no escudo protetor
E neste acreditar as flechas, as pedradas não conseguiram nos matar
(Jackson Angelo)

Contrastes (poesia para pensar nos contrastes)

Contrastes (poesia para pensar nos contrastes)

Um dia este sertão foi mar
Um dia a pomba branca despencou do céu
E suas asas perderam a força, suas penas viraram pó
Um dia nasci, um dia fiz meu primeiro pipi
Um dia venci a morte
Outro dia mais um pouco de mim foi embora
O inesquecível virou amnésia
A anestesia não funcionou mais
A explicação se perdeu em si mesma
Os erros voltaram com mais força
A paciência renasce das cinzas do desespero que me devorou
O amor matou mais do que o ódio
Um dia os olhos tremulam sem força
As mãos já não levantam seu próprio peso
As montanhas mais altas viram rochedos no chão
Um dia, um descanso cansa muito mais do que trabalhar
Um dia conheço todo mundo que passa
Noutro, nem as ruas mais reconheço
Um dia tudo é como sempre conheci
Noutros, os significados se perdem em um buraco negro do sem sentido

(Jackson Angelo, em 02 de fevereiro de 2011)
 

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