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Sou o esquecido

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dedico a todos os que se sentem esquecidos em algum instante. Dependendo de quem nos esquece é até um favor. Mas o fato de se sentir esquecido evidencia que no nosso íntimo queremos que alguém se aproxime e estranhamos não haver essa proximidade. Esperamos um alô, um bom dia, uma carta, um oizinho, tudo isso vai aquecendo pouco a pouco o coração. Ainda que isso não nos cure dos nosso males físicos, certamente nos lembra que somos alguém, que temos identidade e que o outro nos reconhece enquanto pessoas.
A solidão devora até mesmo o prazer que dá sonhar. Porque ainda que pareça impossível a fé depositada nos sonhos vai motivando a esperar, a lutar, a sentir alegria por aquele pequeno pedaço de possibilidade.
Essa poesia foi feita acho que em 2009, encontrei hoje vasculhando papéis antigos. Acreditem tenho um monte de papel de poesias que vou fazendo quando dá vontade ou quando há uma necessidade mesmo de naqueles versos sem rima e até toscos ir colocando minha emoção e sentimentos.


Sou o esquecido


Sou o que morre todo dia nos hospitais
Nas valas sem teto, nos monturos, nos vales fétidos
Desconhecido da mídia, não tenho nome
Não vão fazer comunidades no Orkut, Facebook
Não vão fazer correntes de oração e "nós te amamos"
Morro sem médico, sem família, sem amigos
Que não recebe visita nem dos salvos nem dos perdidos
Sou o que nem história tenho pra contar
Porque nada acontece
Não vão me ver na Globo, Record, Hollywood
Não sei o que é comissão de Direitos Humanos
Nunca vi ONG alguma
Nunca vi missionários
Passo nas ruas, caio nas ruas, defeco nas ruas
Vomito no meio do trânsito
Ninguém me vê
Se o carro passar por cima não há mais espanto
Ninguém reclama meu corpo e nem minha vida
O esquecido que não tem lugar na memória de ninguém
Já não entende se há razão para clamar por misericórdia
Sou o que os palestrantes famosos chamam de fracassado
Mas estou ali nas estatísticas que alavancam projetos e impostos
Fazendo massa, quantidade, dinheiro
Neste instante sou um algo, sou um número
Nunca um ser humano
 

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