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Pequena história de Rebeca

quinta-feira, 13 de junho de 2013

 

Quando Rebeca perdeu alguém a quem muito amava, ela não perdeu seu apetite. Continuo gostando de sorvete, pirão, suco de uva, Coca-Cola, patê de atum ETC. Ela continuou pelejando para gostar das cores, admirar o azul do céu, o show de cores que a natureza presenteia fartamente desde que ela nasceu. A dor não a fez desacreditar da vida nem tirou a beleza das flores, das árvores, dos sorrisos das crianças ou diminuiu suas horas de sono. Rebeca pensava: "Não poderia deixar e aceitar o apagar de tanta coisa boa que ainda era possível. Viver era preciso, o coração não poderia ter as forças esgotadas quando a vida é muito mais do que uma única pessoa!"
Rebeca continuou adorando tomar um banho gelado num dia quente e amando sentir-se aquecida pelos lençóis no dia frio.
Acreditando na alegria, ela continuou nutrindo sua paixão por coisas engraçadas. Afinal, esta perda não a deixou cega, manca, aleijada, sem respirar, paralítica, muda, surda ETC. Ela procurou pensar nas coisas que não perdera e imaginar como seria a vida vivendo em condições pesadamente desfavoráveis.
O verbo prender costuma PRENDER a atenção do ser sobre ele. Mas tantos verbos ainda são possíveis: caminhar, brincar, conversar, achar, lutar, experimentar, brilhar, sonhar, superar, renovar, amar, aprender, decidir, avançar... Além disto, há ainda a luta pela justiça, pela busca de ideais, propósitos que só podemos construir em grupo e não apenas individualmente.
Nesta vida finita o que há de tão novo?
Nenhum fato ainda matou os bilhões de seres humanos que como ela existiam no mundo e que tiveram biologicamente um pai e uma mãe, a quem certamente perderão um dia. Ou pior: milhares nunca conheceram pais ou família.
Milhões tiveram e terão dores parecidas ou piores. A marcha da humanidade continuará porque há leis maiores do que minhas passageiras vontades.
O que mudou foi que Rebeca enfrentou uma separação dolorosa, contra sua vontade, não poderia mais ver este alguém para também compartilhar dores e alegrias... Ela procurou aceitar que a vida supre, por mais que o coração se negue a crer ou ter como verdadeiro. A vida não se resume em um alguém. "Não se resume em mim" - ela pensou. Seria muito egoísmo querer prender alguém no mundo justamente porque ela o amava profundamente. A atitude mental teria que ser forte para aceitar os fatos, por mais duros que fossem. Lá no fundo já sabemos que tudo aqui é efêmero e a maior parte do que fazemos, pensamos, somos não é apenas por um alguém. Fazemos muito/pouco (necessário, inútil?) por nós mesmos, por quem amamos, por quem nos preocupamos, por causas que compramos para nós mesmos, porque se não existir amor pela pessoa que se é e se procura ser, pela vida que se tem, amar o outro pode virar uma contradição.
Rebeca descobriu que o sentimento de gratidão pela vida não poderia se resumir em ter ou não ter alguém ao seu lado. Isso não poderia ser a medida para o propósito de sua vida.
E assim ajudando outras pessoas a ser felizes, a se encontrarem, bem como se ajudando, procurando se reerguer, se renovar, acreditar, Rebeca tornou sua vida melhor e com um sentido mais pleno da existência e do amor.

Baseado e adaptado em tantas vidas que conheci e até na minha... Espero que em algum momento de perda eu consiga ter uma atitude mental e espiritual forte; se não de primeira, mas buscando vencer qualquer força negativa que me empurre para os pensamentos tristes. O que dá medo é não conseguir. O que dá receio é porque ainda o desespero da dor não foi vivido. O que dá um travo é que um dia sempre há a despedida.

(Jackson Angelo)

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